25/02/06

Concha de Ouro

A nossa AMEP (Associação Moçambicana de Empresas de Publicidade) tem sido quase que inútil, desde a sua criação, no que se refere à promoção da indústria publicitária nacional, ao apoio na formação dos quadros locais, à defesa dos interesses dos seus associados perante a concorrência desleal dos media, etc. Vejo como único trabalho digno de realce a elaboração da proposta de legislação publicitária e o enorme pressing exercido sobre as entidades governamentais no sentido da sua aprovação e implementação.

A essência do projecto do Clube de Criativos era mais atenta às reais necessidades das agências e do pessoal publicitário. O incentivo ao debate sobre os mais diversos assuntos do mercado publicitário, a realização frequente de palestras, seminários, mostras e exposições, e eventuais cursos de formação, faziam parte do projecto. Mas....à boa maneira moçambicana, o projecto ficou apenas como projecto.

Surpreendentemente, e após inúmeras propostas que nem os próprios proponentes acreditavam poder ver realizadas, a AMEP anuncia o projecto do I Festival Internacional de Publicidade de Maputo e uma série de eventos relacionados.

Há que tirar o chapéu a tamanha coragem e ambição, por avançar para um festival internacional, no qual podem participar podem concorrer agências de publicidade, produtores e outras empresas de Comunicação dos países membros da SADC. Há que felicitar o arrojo em definir prémios de Ouro, Prata e Bronze num dos países mais pobres do Mundo. Há que reconhecer o cuidado na selecção do jurí, sendo presidido por...em mais....Stalimir Vieira!!! Os outros membros do jurí são um cocktail de moçambicanos com outras nacionalidades da região, falantes de inglês e francês, no qual se incluem Johanna McDowell (RSA); Vasco Rocha (Moçambique); Ben Kapesi (Tanzania); Tiago Fonseca (Moçambique); Dan Moyane (RSA); Luis Vieira (Reunião); Miguel Rego (Moçambique); João Cardoso (Moçambique); Eunice Muptosa (Zimbabwe); Glen Lomas (RSA); Gerry Human (RSA).

A definição de categorias foi igualmente arrojada, quando comparada com outros festivais africanos (excluindo a RSA), como o International Gecko Awards da Namíbia, o "Acácia de Ouro" de Angola ou o "Flame" das Maurícias; e quando inserida no contexto da realidade do mercado publicitário nacional. Algumas das categorias são, quase que em exclusivo, direccionadas para os participantes estrangeiros, como são os casos do Cinema, do Internet Site, Internet Banner e Internet Promoção (seja lá o que isso for). As outras categorias são: Spot TV, Spot Rádio, Print, Poster, Billboard, Campanha (3 Peças) e Campanha Integrada (3 a 9 Peças). Há grandes prémios por cada categoria.

Porém, alertar para o enorme cepticismo que paira sobre a esmagadora maioria das agências moçambicanas. É que, de facto, as últimas experiências com pseudo-festivais de publicidade realizados em Moçambique não é nada positiva. Primeiro, aquela triste ideia da eleição do melhor spot de TV pelo voto popular, avançado pela TVM, com o patrocínio da mCel, com votação feita por SMS para número da mCel, e cujo vencedor foi, claro!, a mCel. Alguma fiscalização da Comissão Nacional de Jogos? Absolutamente nenhuma. Depois, aquela famosa Gala AMEP dos prémios super originais "Lâmpada de Pinho", em que para cada categoria havia 1 participante (às vezes o número até subia para 2), e em que uma das agências mais premiadas conseguiu parar a impressão do jornal Notícias às tantas da noite, fotografar os seus prémios, elaborar um anúncio, abrir uma Litografia de propósito a altas horas da noite para produzir a respectiva película e inserir o dito na edição da manhã imediatamente seguinte. Tremenda eficácia!! Grandiosa influência sobre os media. Tecnologia de ponta.

Chamo, por isso, à atenção dos organizadores para este clima de desconfiança existente no seio das agências e, mesmo, dos clientes. Chamo à atenção porque o grau de sucesso de qualquer Festival de Publicidade depende em muito da maior ou menor participação, do maior ou menor número de trabalhos inscritos. Depende também, em especial este caso, do interesse dos grandes anunciantes. Se nada for feito neste sentido, vamos mais uma vez ter um Festival de 3 ou 4 agências. Se nada for feito, não haverá dinheiro suficiente para fundir o ouro e voltamos às lâmpadas de pau.
A selecção dos jurados foi um passo interessante na redução dos índices de desconfiança, mas não suficiente. Que pretende a AMEP fazer para que a tranparência seja efectiva? Penso que as propostas podem vir das próprias agências, dos próprios associados. Este será, provavelmente, o momento certo para aumentar significativamente o número de presenças nos próximos encontros da Associação.
A escolha do símbolo (a Concha), foi, quanto a mim, feliz e representativa do nosso País. Penso que a criação de um Website seria interessante e importante, em especial para os interessados do estrangeiro. Quanto ao resto, oremos!!
Abaixo listo o Calendário de Eventos:

Inscrições: 01 a 30 de Abril 2006

Dia 28 de Maio de 2006

Sessão Oficial de Abertura
Exposição de peças a concurso
Jantar para visitantes e associados

Dia 29 de Maio de 2006

Reunião Extraordinária da CPPLP
Actividade do júri
Seminário sobre Comunicação: "O Papel da Publicidade na Economia Emergente dos Países do Terceiro Mundo"
Exposição de peças a concurso.

Dia 30 de Maio de 2006

Reunião Extraordinária da CPPLP
Actividade do júri
Seminário sobre Comunicação: "O Papel da Publicidade na Economia Emergente dos Países do Terceiro Mundo"
Exposição de peças a concurso.

Dia 31 de Maio de 2006

Distribuição de Prémios
Jantar de Encerramento com Espectáculo

Local: Hotel VIP Maputo

8 comentários:

Alex Cardoso disse...

É verdade o que dizes, Rubinho.

Isso são questões que, de facto, devem ser discutidas e resolvidas. No Brasil, sei que existe legislação que proíbe os media de ir directamente ao cliente (e não o contrário). Isso deveria começar a ser introduzido aqui. Mas, se levar 6 anos como levou a aprovação do Código de Publicidade, vamos ter muito que esperar.

A AMEP não parece ainda uma associação no verdadeiro sentido do termo. A participação efectiva dos associados é ínfima. As razões disso também devem ser questionadas e solucionadas.

Mas a criação do Festival Internacional de Publicidade, apesar de ousada, não achas boa iniciativa?

Abraço

Ivan Serra disse...

Creio que apesar de tanto defeito, o Festival e todas as outras iniciativas que foram criadas e mencionadas no artigo, são e serão positivas para que curto-médio prazo, a comunidade publicitária melhor se afirme e seja mais respeitada pelas outras comunidades (governo, marcas, media, etc). São pequenos passos para que as agências possam ter um mais alargado rol de vantagens. São crescimentos proporcionais. Mas no entanto, na linha da "carroça à frente dos bois", em algumas iniciativas poderia haver um bocado mais de cautela e ponderação. Há necessidade de avançar já para um evento tão arrojado? Nem o Festival de Espinho almejou tão alto no seu início...espero sinceramente que a falta de esperiência não prejudice a iniciativa!

Anónimo disse...

Oba, finalmente alguém que agarrando o boi pelos cornos diz o que tem que ser dito.
De facto a Gala da Amep, se pretendia ser um ensaio para este I Festival de Publicidade de Maputo, foi um fiasco! Mais: foi mesmo uma vergonha!
Para além do conhecimento antecipado dos prémios, cheirou e tresandou a arranjinhos de bastidores do género: agora tu ficas com o prémio "x" e a seguir fico eu com o prémio"y". Mesmo que assim não tenha sido, pareceu ter sido assim! Enfim, sinceramente tive pena de alguns dos jurados que sendo sérios e honestos, foram envolvidos involuntariamente nesta trama.
Será que o tal I Festival irá ser diferente? Será que podemos acreditar?

De qualquer forma depois do que aconteceu, parabéns à Amep pela coragem.

Um abraço Alex e parabéns pelo artigo.

Alex Cardoso disse...

Mas...a minha opinião é exactamente essa.

A ideia de partir para um festival a sério em Moçambique é de louvar. Mas a dimensão deste que se apresenta parece não ser realista.

A presença de anunciantes no jurado é impecável.

Alex Cardoso disse...

Corrijo: seria impecável (se fosse aplicada neste caso).

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog.
Como disseste num post posterior (!?), é muito importante o ONDE e QUANDO se diz. Estão todos convidados para aparecer nas reunioes alargadas da direcção da AMEP, onde com toda a transparência e abertura de espírito se decidem todas as questões sobre o festival. Penso que lá as vossas observações/contribuições serão melhor aproveitadas.

Anónimo disse...

Awards, Festival, Creatives e todo outro tipo de eventos internacionais de publicidade/moda/video/arte/... tem o mérito de unir o mundo economico industrial aos trabalhadores da creatividade e liberdade de expressao.Neste caso esta iniciativa da AMEP serà uma primeira ocasiao para a industria da Publicidade Moçambicana de "brilhar" e "exister":
o primeiro magazine economico françes do Oceano Indico ECO AUSTRAL partenaire do festival de Moçambique, assim como o presidente do "CREATIVES Awards OI(AACC)" da Reuniao e director da revista francesa MEMENTO e do guide de la publicité MAC, estao presentes a este RDV...Merci Moçambique e bravo AMEP, "que la force soit avec vous!"

Anónimo disse...

Awards, Festival, Creatives e todo outro tipo de eventos internacionais de publicidade/moda/video/arte/... tem o mérito de unir o mundo economico industrial aos trabalhadores da creatividade e liberdade de expressao.Neste caso esta iniciativa da AMEP serà uma primeira ocasiao para a industria da Publicidade Moçambicana de "brilhar" e "exister":
o primeiro magazine economico françes do Oceano Indico ECO AUSTRAL partenaire do festival de Moçambique, assim como o presidente do "CREATIVES Awards OI(AACC)" da Reuniao e director da revista francesa MEMENTO e do guide de la publicité MAC, estao presentes a este RDV...Merci Moçambique e bravo AMEP, "que la force soit avec vous!"