10/02/06

O Assassinato do Cupido

Logo pela manhã, assim que cheguei ao escritório, apercebi-me de alguma agitação no estúdio. Risadas e algumas expressões mais críticas compunham um cenário pouco habitual. Vendo-me entrar, um colega apressa-se a estender-me o jornal Notícias do dia:

- Já sabes? Assassinaram o Cupido!!! - disse, com ar de quem aguarda uma nova opinião.

Sentei-me, percebendo que os olhos de quase todos se encontravam fixados em mim, e iniciei o habitual folhear do jornal. Pensei que talvez fosse uma pequena partida para dar um mote positivo ao início do dia, tendo em conta que se esperava ser complicado.

Enfim... chegando à dita página, tudo ficou claro. A minha primeira reacção foi de repulsa, mas gradualmente, à medida que a razão se foi apoderando dos efeitos emocionais, iniciando uma análise mais crítica, fui tentando perceber o sentido, o conceito, a ideia por detrás de uma execução básica, típica de retalho.




O anúncio, que tem a assinatura da Golo, concebido para um dos dealers da mCel, tem - penso eu! - como base conceptual a ideia de que as ofertas promocionais das lojas Niza, por ocasião do Dia de São Valentim, são tão boas que farão os destinatários "cair" de emoção, atingidos pela flecha do amor. Bonito! Simpático!

Mas, é extremamente infeliz a utilização de uma imagem tão real de uma criança "morta", com uma flecha espetada as costas, como se a graciosa imagem e mitológica presença de Cupido estivesse de alguma forma relacionada com a dor. Até pode estar....se nos referirmos à dor do amor. Mas, essa, até é uma dor adocicada, se considerarmos que assinala a presença do sentimento nobre de amar alguém. O significado de Cupido, a mitologia, a sua razão de ser, a sua imagem, podem ser explorados em http://www.mundodosfilosofos.com.br/cupido.htm, para quem estiver menos esclarecido.

Em auto-crítica, ainda me passou pela cabeça várias vezes a possibilidade de estar a ser conservador. Mas, acabo sempre por voltar ao mesmo. Não faz sentido. Definitivamente, o copy não condiz com a imagem do cupido assassinado. A não ser que se trate de um anúncio dirigido àquelas sogras mais radicais: "Acabe de uma vez com o seu genro. Compre um telemóvel e ganhe um curso de tiro ao alvo". Tinha mais lógica, não?

Se a imagem fosse caricaturizada, em ilustração, talvez passasse despercebido. Contudo, mesmo assim, a flecha do Cupido não mata: dá vida!!!

9 comentários:

Anónimo disse...

Ahahahha, enfim lembro-me que quem lançou esse potno de vista fui eu, modestia a parte ma adorei o comentario ficou otimo, relamente aquilo nao lambra ao diabo, foi uma feliz ideia mas muito mal representada, eu acho que o cupido iria desmaiar com tamanhas promoçoes mas aquela imagem eh ofensiva, ele esta morto!!!!! Assasinado...enfim realmente, mas o pior sabes Alex eh que o nosso publico receptor, nem deu por elas, passou despercebido tamanha eh a falta de sensibilidade ou "in-cultura", grosseiramente percebe-se muitas coisas desta situaçao, nao me vou por aqui a descrever pk de certo que ja te veio a cabeça mil suposiçoes tbm, nossos receptores, nossa profissao, cultura, onde vamos parar? Have a nice day.

Alex Cardoso disse...

Cara colega, não sei se concordo com a "incultura". Talvez concorde com a insensibilidade. De qualquer das formas, tenho a impressão que nós temos a mania de subestimar o nosso público. À primeira pode ser que não atentem a estas pequenas grosserias, mas...com a frequência, as conversas começam, as opiniões formam-se.

Anónimo disse...

Creio que a intenção até terá sido de certa forma e até inteligente...com uma promoção a oferecer estas prendas, quem precisa de um cupido para conquistar o amor? Mas considero a escolha da imagem simplesmente aterradora, morbida, de mau gosto. Quanto à falta de cultura do nosso público receptor, concordo com o Alex, já me surprendi com a capacidade de interpretação que pode ter. O que precisamos é de incentivar uma maior intervenção e crítica, assim podemos aumentar a sensibilidade. Este Blog é um excelente exemplo, espero que se divulgue e não apenas para a comunidade publicitária.

Anónimo disse...

Quis dizer: ..."de certa forma genuina e atá inteligente"...

Anónimo disse...

Bom eh claro que da forma que vcs dois se expressam devo criar uma certa relatividade em relaçao ao termo que usei "in-cultura" que foi bem usado entre aspas ,perceba-se. Mas eh obvio que existe uma parte de nossos receptores que sao atentos e sensiveis, nao se pode generalizar, fomentar critica e suscitar opinioes eh positivo,mas nao suficiente ao meu ponto de vista, A meu ver existe um problema mais profundo que se tenta omitir, "saltar etapas" de conhecimento eh grave, convenhamos...ha um trabalho a ser feito de base, de raiz, senao simplesmente conversar e alertar, suscitando opinioes e criticas pode eventualmente criar uma nova classe de receptores que partem nao de principios mas de "meios", de opinioes ja formadas ate se pode assim dizer, isto eh mais profundo do que parece..estou aberta a debate pessoal rsrssr. Um abraço. S.

Anónimo disse...

Quem critica ou tem sensibilidade para determindas coisas, precisa ter conhecimento de causa..senao nao passam de simples e fugazes comentarios e exaltaçoes momentaneas....S.

Anónimo disse...

Prontos prontos...não zanga tá!

Alex Cardoso disse...

Antes de mais nada, há que brindar a tão grau de "conhecimento de causa".

Depois do brinde, regressando a Terra, algumas questões:

1. "...existe um problema mais profundo que se tenta omitir, "saltar etapas" de conhecimento eh grave, convenhamos...ha um trabalho a ser feito de base, de raiz..." - Qual, na tua opinião, é então esse problema? Quais as etapas que se está a saltar?

2. "...suscitando opinioes e criticas pode eventualmente criar uma nova classe de receptores que partem nao de principios mas de "meios", de opinioes ja formadas ate se pode assim dizer..." - Felizmente que este blog é dirigido a pessoas que se espera serem capazes de formar as suas próprias opiniões. Independentemente disso, as opiniões aqui geradas são resultado de algum raciocínio (bom ou mau) individual e, portanto, susceptíveis de serem contrariados, mas com sustentação. De acordo?

3. "...nao passam de simples e fugazes comentarios e exaltaçoes momentaneas" - Fantástico. Momentâneos e fugazes são também os sentimentos gerados pela interpretação errada das intenções, não?

Sem resposta a estas questões, não me parece que haja um "problema" levantado, e daí, nada a debater.

Voltando ao post e ao meu comentário, reafirmo (porque não tive ainda razões para voltar atrás!) que foi uma falha a utilização daquela imagem, e que a comunidade publicitária continua a esquecer-se de que os públicos não são parvos.

Bem haja!

Anónimo disse...

"não me parece que haja um "problema" levantado, e daí, nada a debater", nao eh preciso haver problemas na sua forma concreta para se dabater algo, todos concordamos que a imagem usada foi infeliz. Ponto final? Que será um debate afinal? nao houve interpretaçoes erradas ou nao erradas cada um tem a sua e nos todos concordamos com a mesma, eu nao Assumi nunca que os publicos sejam parvos, ate acho finalmente que está a haver uma mal interpretaçaõ de minhas palavras - eh normal!
Mas as provocações sao necessárias senao nao teria graça estarmos por aqui, eu levantei questoes pertinentes, profundas ligadas de certa forma ao assunto, nao querendo tirar conclusoes nenhumas, mas senti um pouco de demasiada re-afirmaçao de tua postura e comentario...em nenhum momento te contrariei...
Ca estou manda vir colega, bjoka.